Cinco características que jornalistas e músicos têm em comum

Por Angela Washeck em 06/08/2013 na edição 758

À primeira vista, as indústrias da notícia e da música parecem ser completamente diferentes. No entanto, olhando mais de perto, é possível ver como a internet lançou todos os negócios da mídia em um terreno inexplorado.

escrever1. O rádio está para a música como o jornal para o jornalismo. Ambas as formas de mídia passaram por seu auge na maior parte do século 20. Depois, a internet entrou em cena e elas foram forçadas a se adaptar. Apesar da ascensão dos serviços digitais de música gratuitos, o rádio continua sendo uma commodity válida para tornar conhecidos os artistas junto ao grande público. Da mesma forma, o jornal impresso vem progressivamente desaparecendo e o digital foi empurrado para primeiro plano, mas não sem a influência do impresso.

Diz a história que o rádio e o jornal impresso acabarão sendo relíquias. (Alguém ainda escuta aquele radinho de oito faixas enquanto lê o jornal deixado pelo garoto numa bicicleta? É provável que não.) No entanto, em seus primórdios, essas mídias estabeleceram um precedente – exigiram que atribuíssemos um valor palpável a seus produtos. Isso cria uma fundação significativa para determinar como nossa cultura as receberá no futuro.

2. Mudou a maneira pela qual músicos e jornalistas/organizações jornalísticas ganham dinheiro. Mas isso não é necessariamente ruim. Antigamente, era simples: os consumidores pegavam um CD de uma loja de discos ou o compravam num show. Paralelamente, os cidadãos assinavam o jornal da cidade e o recolhiam da porta da frente. Atualmente, os consumidores têm uma série de opções. A música moderna e as indústrias jornalísticas estão tão saturadas que às vezes é impossível saber por onde começar.

Além disso, recursos como o Spotify, o YouTube, o NoiseTrade ou o Pandora representam um atraso para os músicos, do ponto de vista monetário; de maneira sincronizada, as organizações jornalísticas devem caminhar por uma linha estreita entre abrir o apetite do leitor com jornalismo gratuito e ter lucro.

Alissa Quart, da Columbia Journalism Review, refere-se a isso como o Método da Cultura Gratuita. Ela pondera que um “mixtape [compilação de canções] de brinde” de um músico é comparável a um jornalista compartilhar conteúdo gratuito. Alissa supõe que esse seja um método para criar uma audiência fácil e que promove a confiança. E continua:

“Parte do Método de Cultura Gratuita consiste em cultivar uma audiência em torno de seu conteúdo de brinde. A banda indie Deerhof, por exemplo, divulga constantemente blogs e envia mensagens de covers e projetos de trabalho em andamento em seu site, assim como divulga as faixas top ten de outros grupos. É claro que, em se tratando de não ficção, existem inúmeros escritores que começam como blogueiros e se transformam em autores, alcançando o sucesso através do Método de Cultura Gratuita.”

Ambas as indústrias vêm trabalhando no desenvolvimento de um modelo digital sustentável que satisfaça todo mundo – consumidores felizes e produtores recompensados.

musica3. A publicidade online é uma situação delicada para organizações jornalísticas e músicos. As organizações jornalísticas ainda estão tateando com vários métodos para financiar um bom jornalismo, como paywalls e micropagamentos, porque o número de visitas à página e as impressões que chegam dos anúncios online não são suficientes para manter acesas as luzes da redação. Uma vez mais, voltamos aos negócios com um amplo espectro de opções para a publicidade.

As publicações de música digital enfrentam as mesmas questões, mas a presença na internet de sites como o Pitchfork, assim como sua abordagem minimalista à publicidade, foram decisivos para o êxito de artistas independentes, como Bon Iver. O site Pitchfork é conhecido por ter avaliado anúncios de uma maneira mais criativa e estratégica, confiando no conteúdo patrocinado por banners, hoje obsoletos.

4. Nenhuma das indústrias irá acabar, portanto não devemos fingir que vai. Como diz Mathew Ingram, do Gigaom, a redação jornalística não se tornará obsoleta devido ao jornalismo-cidadão e à internet. Ao invés disso, ela se transformará, “não numa instituição, mas num estado de espírito e numa série de crenças, assim como uma maneira de nos comportarmos”. Essa é uma opinião da qual os músicos podem compartilhar a respeito de sua indústria.

5. Independendo de com quem trabalhamos, a autopromoção nas redes sociais e nas plataformas online é obrigatória. Se você quiser ser bem-sucedido em qualquer das indústrias, seu nome deve estar por toda parte. Crie perfis digitais e portfólios, divulgue seu trabalho pela internet com outros e envolva seus consumidores através de todas as plataformas. Quando seus fás se sentirem conectados, estarão mais propensos a acompanhar – e comprar – suas composições.

Aram Sinnreich, professor de jornalismo e músico, faz a seguinte descrição do texto de Alissa na Columbia Journalism Review: “Como uma banda numa tournée, os jornalistas têm que enviar e-mails e os leitores de Facebook têm que se envolver com eles diariamente, respondendo aos comentários.” Ao se tornarem acessíveis aos leitores – ao invés de explicar “o que significava a canção”, explicando “o que o artigo significava” – os jornalistas podem aprofundar a lealdade do leitor no seu trabalho.

Trabalhar para uma grande organização, seja ela uma gravadora ou uma empresa jornalística, não nos exime de apresentarmos nossas marcas.

Tradução de Jô Amado, edição de Larriza Thurler e informações de Angela Washeck [“5 Things Journalists and Musicians Have in Common”, do Mediabistro, 16/7/2013]

Fonte: Observatório de Imprensa

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.